Não consegue, não deixa.
Ela quer viver.
Vive ansiosa.
O que é esta ansiedade de viver tudo o que não viveu e achar, e botar na cabeça que o outro está ganhando. Ganhando o que?
O que é que Gilda está vivendo?
E se pergunta: "O que é a vida?"
O que é isso: "VIDA", com aspas e letras maiúsculas.
A qual não se permite viver intensamente. Por quê?
Por que o sangue ferve, por que as palavras explodem, encolhem, ficam encardidas, o que é isso?
Não se permite, por quê?
"Me diz, por favor, me diz...", ela se apavora.
Ela sabe, já descobriu.
Por que tanta preocupação? Por que não se permite aos momentos? Aos seus momentos?
Se não sabe, não sabe; é sincera. Não é dona da verdade. Por muito tempo se achou dona de muitas verdades, muitas delas desmitificadas depois.
O sentimento ainda sempre sufocado, estagnado, muito pensativo. "Ai que saco", pensa Gilda, e volta para o senso comum.
Pensa demais, mas pensamentos que não levam a nada.